Disciplina e Hierarquia num Terreiro
«Uma pessoa muito culta me disse um dia: "gostei muito da Umbanda. Lá todos são deuses, ou seja, todos têm condição de fazer o milagre."
A hierarquia na umbanda é respeitadíssima por todos os participantes. O pai (Babalorixá), ou o dirigente espiritual, dita as regras e a filosofia da casa, os pais e mães-pequenos são seus auxiliares diretos, as Ekédis cuidam da gira e dos médiuns e os ogans cuidam da disciplina e do conjunto de instrumentos usados no terreiro.
Sobre a obediência à hierarquia o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse: "Quem não sabe obedecer, jamais poderá mandar"
Este conjunto de respeito forma a união e a integridade mágica da casa espiritualista de Umbanda. Sem disciplina rígida e séria uma Casa de Umbanda não prossegue seu trabalho sob os auspícios da Espiritualidade Superior. O que parece, às vezes, exagero do Pai ou Pais e Mães pequenos no sentido da manutenção da disciplina, do respeito ao terreiro e aos Guias, do respeito à hierarquia constituída, da não permissão de fofocas ou conversas fúteis, constitui-se, na verdade, no grande para-raio ou entrave à entrada de espíritos obsessores, zombeteiros, mistificadores que, em nome de uma suposta caridade sentimentalóide e adocicada, atuam criando confusões, brigas, desentendimentos, desânimos e a queda da Casa. Todo cuidado é pouco. Não importa que agrade ou desagrade. Quem tem o espírito de amor e busca um Templo sério e a verdadeira espiritualidade, que conduz à evolução, compreende, adere. Caso contrário, é melhor que fique de fora da corrente, pois o orgulho, a vaidade e a ignorância são instrumentos nas mãos dos inimigos invisíveis para criarem problemas e levarem á extinção do grupo.
"O oposto de humildade é soberba e arrogância. Pessoas arrogantes não conseguem conviver bem. O arrogante, ou é enfrentado ou evitado, mas dificilmente aceite ou suportado."
Diz André Luiz, pelo médium Chico Xavier que : "Caridade sem disciplina é perda de tempo".
A corrente é a grande força do Templo Umbandista. Na verdade, a corrente merece mais cuidados que as paredes e toda a estrutura física do Templo. Tudo gira em torno dela. Se um elo dessa corrente estiver fraco, pode desestruturar todo o trabalho e dar acesso às energias negativas que, muitas vezes, conseguem prejudicar a vida de muitas pessoas ligadas a essa casa espiritual. Devemos sempre lembrar: "Ninguém é tão forte como todos nós juntos".
Para manter a Corrente sempre iluminada a disciplina tem que ser rigorosa, e o seu princípio está no respeito à hierarquia. O membro da Corrente que não se sinta inserido nesse campo de atividade de acordo com as normas da Casa deve se afastar, pois será melhor para ele, e evitar-se-ão problemas futuros, bem como a possibilidade de entrada de quiumbas por tele-mentalização nesses médiuns desavisados.
O médium de uma casa que não tenha humildade para aceitar e cumprir as normas e regras da casa onde se encontra seja ela qual for, nunca vai estar inserido na própria egrégora espiritual desse local.
Muitas das vezes quando isso acontece, o próprio médium pode começar a ter retorno negativo na sua própria vida pessoal a todos os niveis, desde a sua saude, a sua vida amorosa, o seu trabalho, etc. Não porque lhe lançaram qualquer tipo de magia negativa, pois é apenas o retorno da ação kármica pelas suas atitudes, pelo seu comportamento, pelos seus pensamentos e desejos, perante o local consagrado onde pisa, com as próprias entidades e forças espirituais desse espaço, e com os dirigentes e seus irmãos espirituais. E quando assim é, o melhor para o médium é afastar-se e procurar uma outra casa que esteja mais em sintonia com o seu tipo de mentalidade e relacionamento com os irmãos e hierarquia da casa.
E não esquecer nunca o seguinte:
Quem entra numa casa deve-se tentar adaptar ás suas normas e fundamentos já existentes e nunca esperar que seja a casa a adaptar-se a quem entra.»
(autor desconhecido)
PADRINHO JOÃOZINHO DIRETOR EXECUTIVO da ARMAC Membro do FOESP - Fórum das Comunidades de Terreiro e de Tradições de Matriz Afro-Brasileira de SP Vice-presidente da FEUCEM Membro do Conselho de Desenv. Participação da Comunidade Negra de Campinas Dirigente Espiritual do Terreiro da Vó Benedita Membro do Comitê Técnico de Saúde da População Negra de Campinas Membro do Coletivo de Combate ao Racismo da CUT Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão no Brasil da OAB
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