Jorge da Capadócia
Domínio Público
Jorge sentou praça na cavalaria
E eu estou feliz porque também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem
Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo, meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem, sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem, sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é de Capadócia, Salve Jorge!
Algumas palavras de Alexandre Cumino sobre a Oração (Musica e Poesia)
Jorge da Capadócia
Esta música se tornou conhecida na interpretação de Jorge Bem, e muitos consideram como sendo dele a composição.
No entanto é de domínio público, de autoria desconhecida, e já foi interpretada também por Caetano Veloso, Racionais MC e outros...
Jorge da Capadócia é São Jorge, mártir e “santo guerreiro”, sincretizado com o Orixá Ogum.
A Capadócia é uma região da Síria em que acredita-se tenha origem o homem que mais tarde se tornaria soldado do Imperador Diocleciano.
O mesmo que ordenaria seu martírio, assim como de São Sebastião e outros que igualmente são santos e mártires.
São Jorge em vida além de sobreviver a todos os martírios a ele infringidos, sendo finalmente degolado, é conhecido por ter vencido um dragão.
Montado em seu cavalo brando e empunhando lança e espada na mão salvou a donzela que mais tarde seria conhecida como “santa salvada”.
Os fiéis buscam em São Jorge suas qualidades de guerreiro e homem determinado, sua espada representa as leis divinas e a lança a direção a ser tomada, simbolismo que encontrará analogia com o Orixá Ogum e na mesma medida em que o Santo Católico é esquecido ou colocado de lado na Madre Igreja é aclamado pelo catolicismo popular e nos cultos afro-brasileiros. Não é raro encontrar sambista que traga São Jorge no peito, literalmente engastado em ouro, como vemos em Zeca Pagodinho ou Dudu Nobre.
A letra tão bem interpretada nos 4 cantos deste “brasilsão” é muito usada nos cultos de Umbanda,
principalmente nos rituais chamados de “fechar o corpo”, que dá para entender e empresta sentido e significado à letra.
Logo no inicio vemos:
Jorge sentou praça na cavalaria
E eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Uma referência ao fato de ele ser da guarda romana e mais que isso sua qualidade de guerreiro. Ter alguém com estas qualidades em nossa companhia só pode ser uma alegria, quando constatamos que este guerreiro “trabalha” em nome de Deus. Jorge teve seu martírio por não negar sua fé em Cristo. Logo sua companhia é uma proteção em minha jornada. Apesar de não citar diretamente á Ogum, por identificarmos o simbolismo se faz importante o encontro de informações a cerca deste Orixá na letra. Pois que Ogum é o Orixá dos caminhos, que abre os caminhos de corta as demandas. A companhia de Jorge aqui se refere também a estas qualidades de Ogum.
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Ao ouvir esta frase pensamos logo nas vestes romanas, naquela roupa ou armadura que ele aparece vertido, no alto de seu cavalo branco. No entanto as “roupas” e as “armas” de Jorge, são uma referência a suas qualidades. Meu escudo e proteção maior são em si as virtudes de Jorge, que inclusive encontram mais um simbolismo no (desculpe a redundância) “alvo” cavalo branco, mais uma vez ressaltando sua motivação. No que este cavaleiro vem montado? Num “veículo” branco, branco como a luz, branco como o dia, o sol, como a paz, a liberdade, branco como tudo o que o branco simboliza.
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem
Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam
Inimigos aqui tem dois sentidos, afinal Jorge venceu o dragão, o inimigo, mas o maior dos dragões são nossos vícios, nosso ego, nossa vaidade. Embora nos dê força para venceu o “outro” que por ventura se coloque como inimigo, nosso maior inimigo somos nós mesmos.
E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Nem “eles” e nem nós, pois já diz o “velho deitado”:
Nossos pensamentos se tornam palavras
Nossas palavras se tornam ações
Nossas ações se tornam hábitos
E estes o nosso destino...
O pensamento é tudo, se existe um campo de guerra “minado” é o nosso campo mental, racional e emocional, consciente e inconsciente. Há... nossos pensamentos... quem os controla? Este nós chamamos de Mestre, nas escolas de espiritualidade de hinduismo, de ensinamentos milenares, os exercícios de Yoga e meditação mais avançados são dedicados a esvaziar a mente, buscando equilíbrio e serenidade. A tão almejada paz de espírito, é a única vitória que se almeja em qualquer batalha travada de si com sigo mesmo. Em todas as jornadas espirituais.
Armas de fogo, meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem, sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem, sem o meu corpo amarrar
Esta é uma parte da letra que vai bem ao encontro da idéia de “fechamento de corpo”, mas ao contrario do que pensam, salvo alguns milagres e fenômenos, embora as letras falem de balas, facas, espadas e correntes, o fechamento de corpo é uma forma de fechamento e proteção espiritual e não material. É a busca por uma proteção que é em si a aproximação entre o adepto e seu santo ou orixá de devoção. Procura-se nestes rituais fazer uma limpeza espiritual e um descarregar de energias negativas, parta então criar um “aura”, como uma redoma da força e poder relacionados a Jorge e Ogum.
O que só se mantém com o merecimento de cada um.
Um abraço a todos,
Alexandre Cumino
Sacerdote de Umbanda
Jornal de Umbanda Sagrada
Colégio de Umbanda Pena Branca
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