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segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Povo Incompreendido: Exús e Pombagiras

Guardiões, Povo em evolução, Compadres e Comadres, Povo de rua, Demônios, Diabos, etc e tal... São tantos adjetivos que muitas vezes não se sabe como chegar até este povo e se dirigir da maneira mais adequada e condizente.
Cada Terreiro de Umbanda tem sua designação própria, sua maneira de falar e seus tratamentos diferenciados.
Para mim, Exú é Exú.Não há outra definição melhor que a verdadeira: Exús e Pombagiras. Pois é o que eles são.
Muitas vezes, na tentativa de inibir, aterrorizar, mistificar e até mesmo ocultar seus nomes por vergonha, muitos sacerdotes (pais e mães de santo) substituem seus verdadeiros nomes na intenção de impressionar, sugestionar ou induzir.
Sejam os consulentes (assistência), sejam seus próprios médiuns (ou cavalos, aparelhos, etc).Só que não é bem assim. Já falei sobre Exú outras vezes e tentei esmiuçar bem este assunto.
Porém, como ele é extenso e por vezes contraditório entre umbandistas, ele parece não ter fim. Definições e mais definições são dadas em livros, palestras, reuniões e até congressos da religião. Para quê isso?
Se nem o básico muitas vezes sabemos sobre este povo tão mal-compreendido e aceito, muitas vezes pelo próprio médium que se diz umbandista?
Como explicar isto?
Na verdade, o título poderia muito bem se referir a nós, encarnados, homens e mulheres da terra. Nós sim é que somos complicados.
Na verdade não somos incompreendidos.
Somos muitas vezes incompreensíveis.
Imagine o que deve ser para um Exú e Pombagira de luz (se não tem luz não é Exú ao meu entendimento), chegar ao nosso plano, ter que voltar ao contato com seres encarnados, completamente envolvidos em suas complexidades (problemas financeiros, amorosos, sexuais, familiares, etc), serem chamados por diversos nomes e apelidos e ainda por cima darem suas excelentes consultas e prestarem os mais variados auxílios a nós?
Justo a nós, que os classificamos tanto, como se fossem espécies de uma determinada tribo? Justo a nós, que com nossas manias e necessidades primárias de entendimento damos a eles os mais estranhos aspectos, talvez os piores já vistos na face da terra?
E por que nós?
Será que somos tão merecedores assim?
A resposta é sim.
Mesmo com tudo o que somos capazes de criar, ainda assim eles nos entendem.
E o melhor: nos dão uma nova chance. É claro que com limites. Se você persistir no erro e não quiser mudar, não há o que possa ser feito por eles.
Mas ainda assim, com todas as nossas falhas, nossas imperfeições, nossas ingratidões e absurdos cometidos – com nós mesmos e com eles – os Exús e Pombagiras, respeitados e temidos por nossos irmãozinhos inferiores do Astral, continuam reinando e reinarão absolutos nos Terreiros de Umbanda onde a lei se faça presente.
Pois é Exú o primeiro a se apresentar nos entraves espirituais, nas batalhas invisíveis, nos campos de força e de defesa. Não há quem entenda melhor e que esteja mais bem preparado.Assim é Exú, assim é Pombagira. Cultuados e reverenciados às segundas-feiras, nas encruzilhadas e nos cemitérios, locais onde a energia se faz presente com maior intensidade.Ao povo de ganga, laroiê. Ao povo de terra, mojubá!
*Ulisses Júnior é médium de incorporação da Casa de Caridade Caboclo Rompe-Nuvem, situada no bairro de Jacarepaguá/RJ.*
Ulisses Júnior
Publicado no Recanto das Letras em 30/10/2007Código do texto: T716391

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