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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Alicerce



Alicerce

Certa vez, enquanto eu dormia, um amigo espiritual convidou-me a segui-lo a um local onde, segundo
ele, poderia demonstrar-me algumas lições práticas sobre uma importante estrutura no ritual de umbanda.
Motivado pela curiosidade e pelo desejo ardente de aprender, livrei-me de qualquer receio e pus-me
a volitar juntamente com a entidade amiga.
Estava todo feliz pelo fato de estar plenamente consciente de tudo o que estava acontecendo e esperançoso
de poder encontrar alguma belíssima colônia espiritual de vibrações elevadas.
Qual não foi minha surpresa ao perceber que a entidade estava me levando em direção a uma localidade
presente aqui mesmo na terra.
O espírito amigo olhou para mim e sinalizou com a cabeça que havíamos chegado ao local onde eu
iria ter o meu aprendizado.
Não pude disfarçar minha estranheza ao perceber que o referido local nada mais era do que uma
casa abandonada e estava mesmo imerso em meus pensamentos quando a entidade convidou-me a sentar
no chão, olhou profunda e fixamente em meus olhos e perguntou-me:
— Companheiro, qual a estrutura mais importante de uma casa?
Eu estranhei a pergunta, mas respondi:
— Por acaso seria o teto?
— Você porventura poderia justificar sua resposta?

— Bem, penso que sem o teto qualquer casa
fica exposta ao clima e à poluição e que, por isso,
não importa qual seja sua estrutura, um dia ela vem
a baixo.
Foi então que ele me fez uma preciosa pergunta:
— E se as colunas de uma casa não forem
resistentes, por acaso elas aguentariam o peso de
um teto ou de qualquer estrutura?
Eu nem precisei pensar muito e respondi que
isso seria impossível, já entendendo que a espiritualidade
estava correta e que a estrutura mais importante
de uma casa eram seus alicerces.
— O mais importante ainda, continuou o amigo
espiritual, é que todos os alicerces da casa não
têm a mínima ideia de que é deles a estrutura mais
importante, tendo em vista que estão quase sempre
revestidos por massas, pinturas ou qualquer outro
tipo de ornamento e, não obstante tal fato desempenham
o seu papel com extrema perfeição.
Eu lhe fiz este questionamento companheiro,
porque, como disse anteriormente, eu preciso fazerlhe
alguns apontamentos práticos sobre uma importante
estrutura do ritual de umbanda que se constitui
de seus cambones.
E a entidade espiritual, colocando sua destra
em minha cabeça dilatou minha percepção mental
e sensorial de tal forma que, mesmo sem sair do
lugar, fui levado em uma velocidade extremamente
rápida a visitar vários terreiros de Umbanda, aonde
me foi solicitado que em cada um deles observasse
atentamente o trabalho dos cambones em auxiliar a
Deus.
Assim fiz e quando terminou a minha “imóvel
viagem” abri meus olhos e ouvi a pergunta:
— E então companheiro, nós visitamos vários
terreiros de umbanda e, no que diz respeito aos
cambones havia sempre uma situação que se repetia.
Diga-me: qual seria esta situação?
— Bem, o que eu pude observar é que, independente
do terreiro visitado, em cada um deles
eu via pelo menos um cambone com uma coloração
energética pessoal bem mais apagada que a coloração
de todos os outros cambones.
Foi então que o amigo espiritual me perguntou:
— Você saberia dizer-me o motivo desta sua
observação?
Diante de minha negativa ele respondeu:
— Cada um dos cambones com a coloração
apagada representa um médium que não está exercendo
devidamente o seu papel de alicerce de uma
casa. Diga-me o que você observou no primeiro terreiro
visitado.
— Bom, no primeiro terreiro eu notei que o
cambone com a energia mais apagada era uma
médium que não guardava sigilo de absolutamente
nada do que ela escutava as pessoas conversarem
com a entidade que ela auxiliava, muito menos se
fossem os seus próprios irmãos de fé.
— Observaste bem! Respondeu a entidade.
- Esta cambone está com sua luz pessoal apagada
por estar desvirtuada nos campos do conhecimento
religioso ou como dizem vocês na terra, por falar
demais e indevidamente. Agora, diga o que você observou
no segundo terreiro visitado?
— Nesta referida instituição religiosa o cambone
com a luz mais apagada era um médium que,
ao invés de se concentrar mental e espiritualmente
com vistas a auxiliar, via magnetismo energético, o
trabalho desenvolvido pelas entidades preferia exacerbar
toda sua curiosidade, esquecendo-se de praticar
a caridade.
— Novamente observaste com extremo apuro
como um médium pode apagar sua luz pessoal
de forma tão intensa quando se encontra desvirtuado,
olvidando a prática do amor ao próximo em
detrimento ao apego de sua curiosidade pessoal e
despropositada.
Mas, diga-me companheiro, o que observaste
no próximo terreiro visitado?
— Neste terreiro a que se referes, eu vi que
um médium realizava suas atribuições de cambone
com extrema má vontade e quando dele me aproximei
para descobrir o porque eu pude ver que o
motivo de tamanha má vontade devia-se ao fato do
desejo do médium em trabalhar a favor da caridade
não como cambone, mas sim por meio da incorporação,
entretanto como isso
ainda não lhe era possível, ele cambonava com extrema
desfaçatez.
— Muito boa a tua observação de como age
um médium desvirtuado nos campos da evolução,
ou seja, neste caso, desejando praticar a caridade
de uma forma que seu próprio merecimento ainda
lhe nega e olvidando orgulhosamente o trabalho divino
de elevação e evolução espiritual através do
ato de cambonar.
Na realidade o cambone por você visualizado
é um médium que, desta casa espiritual, gostaria
de ser teto para que, de acordo com seu modo
de ver, pudesse aparecer aos olhos do próximo, se
esquecendo que as atribuições desempenhadas por
um médium em um terreiro não são outorgadas pelo
vão desejo de nenhum ser humano, mas sim, por
Deus e que, aos olhos do Criador, todos têm a mesma
importância.
Agora diga-me: - O que você viu no outro terreiro
que visitou?
— Bem, no quarto terreiro que visitei eu vi

que a cambone com a luz pessoal mais apagada
era uma médium que dava muito trabalho para as
entidades no ato de cambonar pelo fato de literalmente
se intrometer em tudo que as entidades falavam
para as pessoas assistidas no momento das
consultas espirituais e, pior, esta pessoa cortava
abusivamente as falas das entidades para poder,
ela mesma dar consultas aos assistidos, como se
ela estivesse no mesmo nível hierárquico e evolutivo
das entidades que militam na umbanda.
— Muito bem notado companheiro sobre o
quanto a vaidade pode influenciar na luz individual
de um médium e desvirtua-lo nos campos da fé
quando este se esquece do fato de que, apesar de
serem nossos irmãos e amigos e de se apresentarem
de forma simples e humilde sem fazer nenhum
esforço para isso, as entidades que participam do
ritual de umbanda são extremamente sábias e infinitamente
mais evoluídas moral e intelectualmente do
que todo e qualquer médium, devendo, não apenas
por isso, serem tratadas com o máximo de respeito
e dedicação. Estou gostando de suas observações!
Agora diga-me: - O que você observou no terreiro
seguinte.
— Bom, neste terreiro eu notei que o cambone
que possuía a luz pessoal mais ofuscada era um
médium que não cuidava de sua preparação ritualística
para estar num terreiro de Umbanda servindo
Deus e a espiritualidade .
— E eu lhe digo que o fato observado por
você indica tão somente quanto o médium pode
desvirtuar-se nos campos da Lei divina e assim diminuir
intensamente o brilho de sua luz pessoal quando
vai participar de reuniões sem tomar as devidas
precauções com o álcool, a carne vermelha e o sexo
esquecendo-se intencionalmente dos fundamentos
sagrados destas ditas precauções, ou olvidando-os
pelos mais escusos motivos.
Mas não se acanhe companheiro, diga o que
você notou no terreiro seguinte que foi visitado por
você.
— Bem, no terreiro seguinte o cambone com
a luz mais opaca era uma médium que estava presente
no terreiro, mas sem a menor boa-vontade.
— É companheiro, quando se está presente
numa gira de umbanda para se praticar a caridade
apenas em corpo físico e “esquece” o mental e o
emocional em outra localidade perde-se muito o brilho
de luz pessoal pelo desejo de se chegar ao final
do ano religioso e dizer que participou de todas as
giras do ano corrente, valorizando a quantidade em
detrimento da qualidade, mostrando claramente um
desvirtuamento nos campos da justiça divina.
— Mas companheiro, agora, só para finalizar,
diga o que você viu no último terreiro que visitou.
— No sétimo e último terreiro que visitei eu
notei que o cambone que possuía a luz pessoal
mais apagada era uma médium que vivia a criticar e
podar todas as sugestões e ideias que eram fornecidas
pelos seus próprios irmãos de fé, não apenas
pela vontade de manter um certo conservadorismo ,
mas principalmente por uma questão de força, para
mostrar quem manda e também para defenestrar as
ideias e criações do próximo.
— Bem companheiro, neste último terreiro visitado
você pôde observar como um médium pode
diminuir de maneira tão intensa sua luz pessoal por
estar desvirtuado nos campos da vida.
Sim, pois posso lhe dizer que as ideias criadoras
também estão presentes nos campos da criação
divina que permite a evolução da humanidade
em todas as áreas da vida.
Na realidade isto significa dizer que a ideia
criadora, quando gera conhecimento, lei, justiça, fé,
evolução e amor, na verdade, está gerando a própria
vida no coração e mente de seus companheiros
de evolução. E quando um companheiro impede
que as ideias sejam escutadas e discutidas ele está,
simplesmente, se desvirtuando nos campos da vida
por estar atuando contra a própria criatividade humana.
Na realidade companheiro, de uma forma ou
de outra, em cada terreiro visitado esta noite você
pôde observar e compreender o porquê de eu ter
trazido você até aqui, nesta casa simples e até mesmo
desprovida de beleza física..

Nilcelia Tocaceli

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