Sincretismo Religioso
O ideal de liberdade é inerente à própria condição do ser humano. Mesmo o mais vil dos assassinos sonha com a liberdade. O que se dizer então do homem que nascendo livre nas savanas africanas e reduzido à humilíssima condição de escravo, sem nada ter feito para merecer esse castigo. Assim, em seus sonhos de liberdade, o negro africano via em OGUM, o Orixá da guerra, a força que necessitava para conseguir sua liberdade.
Um dia o negro empunharia a lança e a espada de OGUM, mataria os brancos, vingando amigos e parentes mortos por estes e tomaria de uma de suas grandes canoas (caravelas) e voltaria à sua terra natal.
Diante do exposto, cultuar OGUM era, para o negro africano, vital. Era ele quem os ajudaria na batalha, lhe daria forças e quem sabe lhe emprestasse a coragem de que tanto necessitava.
A figura de SÃO JORGE nos mostra um homem todo coberto com uma armadura de aço, ferindo com uma lança, o dragão, símbolo do mal. O OGUM que o negro conhecia e que era o Orixá do ferro era um Orixá guerreiro. O branco lhe impunha a imagem de SÃO JORGE dizendo-lhe que esquecesse o Orixá guerreiro o continuasse humildemente cultuando OGUM “disfarçado” na imagem do Santo Católico.
As imagens tão populares, no período colonial, eram na sua grande maioria, esculpidas em madeira. O negro africano quando cumpre uma obrigação, retira do lugar sagrado onde ele deu a obrigação, um pedaço de solo, geralmente uma pedra e a qual dá-se o nome de OTÁ e que ele cultua como objeto sagrado pelo resto de seus dias. Para não trair seus deuses de origem, o negro habilmente, escavava a imagem do Santo Católico e introduzia nessa escavação o OTÁ correspondente ao Orixá. Desta forma ele poderia voltar-se para uma imagem do Santo Católico e reverenciar o Orixá Africano.
O branco acabou por descobrir que os negros escavavam as imagens. Quando este fato ocorreu, o negro justificou que a imagem oca não trincava e que a pedra na base servia para dar maior estabilidade à imagem. O branco ladino passou a utilizar-se destas imagens que eram encomendadas aos negros para ocultar no seu interior, fumo, ouro e pedras preciosas. Essa imagem era vedada com uma massa preparada com cera de abelhas e serragem e enviada à Europa sem pagar os direitos do rei, surgindo desta forma de contrabando a expressão “SANTINHO DO PAU OCO” como sinônimo de coisa marota.
Às vezes, o dono do engenho, o senhor das terras tinham um santo de devoção pessoal e obrigava o negro a cultuar esse santo. Isto justifica o fato de em Salvador, OGUM ser sincretizado com SANTO ANTONIO e não com SÃO JORGE.
Para que se entenda melhor, SANTO ANTONIO foi considerado como Capitão do Exército Nacional e pároco da igreja a ele dedicada, recebia o seu soldo do quartel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.